“Não queremos privilégios, queremos dignidade”

CDL Goiânia ouve pessoas transexuais que relatam as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho

O Dia do Orgulho LGBTQIA+ é lembrado em 28 de junho. A data é um convite para reflexão e luta da comunidade LGBTQIA+ em busca de respeito, liberdade e, sobretudo, oportunidade. No mercado de trabalho, os objetivos são os mesmos. O departamento de marketing da CDL Goiânia (Câmara de Dirigentes Lojistas) conversou com algumas pessoas trans para entender quais são as principais dificuldades que elas enfrentam no ambiente corporativo.

Raiane Eduarda tem 33 anos e é estudante. Hoje é estagiária da Defensoria Pública do Estado de Goiás e atua no Núcleo de Direitos Humanos. Raiane é uma mulher trans e explica que sempre se viu assim. “Não existe um momento em que você se descobre. Existe um momento de libertação e de auto aceitação. É tão natural quanto você respirar”.

Para Raiane, a grande deficiência do mercado de trabalho é a falta de oportunidade. “Faltam políticas públicas para a criação de novos empregos e de contratação da diversidade.” Ela explica ainda que, ao longo dos anos, participou de projetos sociais de capacitação e de encaminhamento para o mercado de trabalho. “Aproveitei as oportunidades que a vida me deu. Hoje eu sou formada, sou cozinheira, trabalhei um tempo na área. Ganhei uma bolsa de estudos para cursar Direito e hoje sou estagiária na Defensoria Pública de Goiás”, acrescenta. Raiane pontua que já passou por vários episódios de transfobia e de preconceito no ambiente de trabalho.

“A sociedade precisa se desconstruir e não nos invisibilizar”

O psicólogo Don Erik Lopes, de 31 anos, também compartilha de experiências semelhantes às de Raiane. Don Erik é um homem trans, nascido no Acre. “Nasci em uma cidade acreana de 10.000 habitantes, então meu processo de transição foi tardio. Convivi por muito tempo em um processo de repressão, por isso, comecei a minha transição aos 30 anos, ou seja, ano passado.”

Don Erik reforça que em muitos casos, quando a transição é tardia, pode significar que a pessoa foi uma criança negligenciada. “Os estudos mostram que desde os 3 anos de idade, a criança já manifesta sua identidade de gênero. A gente precisa se desconstruir para se reconstruir e então se descobrir”, acrescenta.

Don Erik atua na área da psicologia desde 2019. Ele explica que se encontrou em um nicho específico: atender pessoas transexuais e os familiares. “Não trabalhei como CLT e espero não vivenciar essa experiência. Eu sei que o mercado de trabalho é muito preconceituoso, porque tenho pessoas próximas que foram demitidas a partir do momento que iniciaram o processo de transição.”

Para Don Erik, ainda temos uma longa estrada a ser percorrida para que pessoas trans sejam incluídas no mercado de trabalho. “A sociedade precisa se desconstruir e não nos invisibilizar. Somos vistos nas ruas, na prostituição ou em espaços que as pessoas não enxergam, como em call centers. Precisamos ocupar espaços de liderança, de coordenação. A gente precisa ser visto!”

O psicólogo acrescenta que as empresas precisam se capacitar para receber a diversidade. “Não é oferecer uma vaga, isso não é um favor, é um direito. Precisamos de políticas de inclusão dentro das empresas, para que a gente se sinta seguro ao sair de casa e chegar no trabalho. Queremos ser avaliados pelas nossas competências e não pela identidade de gênero”.

“Pessoas trans podem exercer qualquer cargo ou função”

Cristiane Beatriz tem 42 anos é uma mulher trans e atua como educadora social. De maneira parecida ao Don Erik e à Raiane, ela também teve a infância e a adolescência reprimidas. Ao se deparar com o mercado de trabalho, encontrou um ambiente hostil. “Eu tive dificuldade de permanecer no trabalho. Sempre encontrei preconceito, ouvi piadinhas e passei por assédio.” Atualmente Cristiane trabalha no projeto Oportunizar, da ONG Rede Trans Brasil.

O projeto Oportunizar é uma iniciativa da Rede Trans Brasil e o objetivo é fortalecer ações institucionais do movimento trans. O fortalecimento passa por capacitação e ações de qualificação e empregabilidade. Como educadora social, Cristiane busca parcerias que garantam a capacitação e a empregabilidade de pessoas trans. As parcerias passam pelo Sistema S (Senai, Sesc, Sesi e Senac), por instituições como a CDL e pelo Poder Legislativo, na busca de leis que garantam políticas afirmativas.

“Acredito que o que falta é oportunidade e entender que pessoas trans podem exercer qualquer cargo ou função. A capacidade não está na identidade de gênero ou na orientação sexual. Você sofre preconceito da sua família, na escola e no mercado de trabalho. Isso precisa acabar.” A educadora afirma ainda que além de oportunidades, as empresas precisam criar estratégias que corroborem para um ambiente de trabalho saudável. De modo que os outros colaboradores entendam que pessoas que representam a diversidade vieram para agregar. “Não queremos privilégios, queremos dignidade.”

Assista aqui o video dessa entrevista, clique no link.

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